Pico

sábado, 17 de março de 2012

I

 Era, certamente, como um poeta. Mas não um poeta qualquer, daqueles que falavam coisas sem sentido e eram ultrajados por tentarem transformar a poesia dos sentimentos em palavras rasgantes, sofridas. Era tudo que queria ser, quando não queria ser nada demais. Era um menino, quase homem talvez, mas ainda sim um menino. Bem verdade que era um meninão, do tipo que suava travessura, que dava um toque pessoal em todas as coisas, transformava contos de Tolkien em, no mínimo, romances Shakespeareanos. Era apaixonado por se apaixonar todos os dias, amava isso. Dava pra ver, só de olhar pra ele dava pra ver. Às vezes isso acabava no que os outros chamariam de desastre. Ele aprendera desde cedo a ser um exímio blefador, mas nunca conseguira blefar com o coração. Pra ele dava no mesmo, afinal, e era isso que o fazia tão maluco. E quando eu digo maluco, não entenda nenhuma outra coisa, entenda maluco. Ou pelo menos seria esse o diagnóstico. SE ele quisesse ser diagnosticado. Mas ele não queria. Ele não precisava. Ele só queria viver, e isso sim, era bonito de ver. Era ferido, como uma pedra lascada pelo tempo. Mas isso não o impedia de ser sensível às coisas. Isso o motivada pra vida. Ele exibia cicatrizes como apenas um pai orgulhoso mostra um filho, como um campeão exibindo aquele troféu tão difícil de conquistar. Ele tentava dar sinais o tempo todo, de tudo. Verdade que quase nunca eram interpretados como ele queria, e não era o "quase" que o motivava. Era simplesmente que ele adorava tentar.
Digamos, então, que ele não era um poeta e sim um sonhador, como todos os outros... Mas afinal, o que seria um poeta senão um incansável sonhador ?

Nenhum comentário:

Postar um comentário